terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A música exótica de Iasi Iaco


edição e revisão: Patrícia Chammas









     Álbum traz mix de estilos e inova com ousadia vocal




             Quando dois talentos se cruzam, pode esperar que algo magnífico saia desse encontro. Não foi diferente com Giovanni Iasi e Pedro Iaco que, juntos, formam a dupla Iasi Iaco e lançam o CD Rio Escuro, apresentando 14 faixas que são verdadeiras memórias musicadas. Iasi é o instrumento e Iaco, a voz. Voz que passeia por uma imensidão de registros como um simples respirar. A música que vem das cordas, ora do violão ou da viola de Iasi, ora das cordas vocais de Iaco, transita entre o popular e clássico, passeando por ritmos como o baião, o choro, a valsa, o blues, a seresta e o singelo canto de ninar. Produzido pelo violonista Emiliano Castro, o álbum ainda conta com as participações especiais de André Mehmari, Tiganá Santana, Fi Maróstica, Edu Ribeiro, e Douglas Alonso.

            A música Rio Escuro (Pedro Iaco), que dá nome ao disco, é uma declaração de amor ao pai, com quem o autor costumava pescar robalo em Ubatuba. Ele partiu quando Iaco ainda era criança, mas as memórias nunca foram apagadas. Fortes emoções vêm à tona, principalmente para quem também perdeu o pai na infância, como eu. Na segunda canção, Por Acaso (Giovanni Iasi/Alice Ruiz), o poema de Ruiz fala de encontro, e o violão de Iasi ganha acompanhamento de baixo e bateria, deixando a música mais bela do que já seria sem a chamada “cozinha”, responsável pela base rítmica do som. Em Be Bird (Giovanni Iasi/Joe Flood), com letra em inglês, Iaco passeia por seu amplo e privilegiado registro vocal, brinca com os intervalos e mostra domínio da letra, que fala de liberdade em cada voo.
            É de uma felicidade única poder ouvir e constatar que esses talentos são nossos, estão em nossos quintais, nossas calçadas, ruas, e muitas vezes não nos damos conta. A música brasileira pari todos os dias filhos como Iasi e Iaco, mas onde estão eles, senhora MPB? Não podemos esperar que a grande mídia os apresente. Tenho orgulho de poder semanalmente mostrar a vocês, que seguram este periódico, o que há de melhor nos quatros quantos deste país.

            Com participação de André Mehmari ao piano, Iaco desfila um vocalise na sua própria canção, Assombrosa, uma verdadeira aula de como colocar a voz a serviço da canção. O próximo tema, o instrumental Festança (Pedro Iaco), confirma que Iasi e Iaco realmente têm intimidade com as cordas. Nele ouviremos os violões de seis e sete dialogarem uma melodia. Iaco e uma kalimba eternizam Enquanto Dorme (Pedro Iaco), em apenas 22 segundos. Jumbalalão (Pedro Iaco) é uma singela canção de ninar. Sabe aquelas noites enluaradas que só o céu do interior é capaz de nos mostrar? É um retrato sonoro dessa serenata/samba-canção composta por Iasi e Gabiel Fiorito, de nome Pétala de Rosa. Pensando no mercado internacional, Iasi Iaco investem nos temas cantados em inglês. Agora é a vez de ouvirmos Chet Parker (Giovanni Iasi/Joe Flood). A voz grave e densa de Tiganá Santana contrasta com a delicada de Iaco em um belo dueto: Abismo (Iaco). Encerram essa maravilha, a letra psicografada por Iaco, Minha Viúva, e o vocalise para o avô de Iasi, Nani.
            Bálsamo aos ouvidos, água para a alma.

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