edição e revisão: Patrícia Chammas
Álbum
traz mix de estilos e inova com ousadia vocal
Quando dois talentos se
cruzam, pode esperar que algo magnífico saia desse encontro. Não foi diferente
com Giovanni Iasi e Pedro Iaco que, juntos, formam a dupla Iasi Iaco e lançam o CD Rio
Escuro, apresentando 14 faixas que são verdadeiras memórias musicadas. Iasi
é o instrumento e Iaco, a voz. Voz que passeia por uma imensidão de registros
como um simples respirar. A música que vem das cordas, ora do violão ou da viola
de Iasi, ora das cordas vocais de Iaco, transita entre o popular e clássico, passeando
por ritmos como o baião, o choro, a valsa, o blues, a seresta e o singelo canto
de ninar. Produzido pelo violonista Emiliano Castro, o álbum ainda conta com as
participações especiais de André Mehmari, Tiganá Santana, Fi Maróstica, Edu
Ribeiro, e Douglas Alonso.
A música Rio Escuro
(Pedro Iaco), que dá nome ao disco, é uma declaração de amor ao pai, com quem o
autor costumava pescar robalo em Ubatuba. Ele partiu quando Iaco ainda era
criança, mas as memórias nunca foram apagadas. Fortes emoções vêm à tona,
principalmente para quem também perdeu o pai na infância, como eu. Na segunda
canção, Por Acaso (Giovanni
Iasi/Alice Ruiz), o poema de Ruiz fala de encontro, e o violão de Iasi ganha
acompanhamento de baixo e bateria, deixando a música mais bela do que já seria
sem a chamada “cozinha”, responsável pela base rítmica do som. Em Be Bird (Giovanni Iasi/Joe Flood), com
letra em inglês, Iaco passeia por seu amplo e privilegiado registro vocal, brinca
com os intervalos e mostra domínio da letra, que fala de liberdade em cada voo.
É de uma felicidade única poder ouvir e constatar que
esses talentos são nossos, estão em nossos quintais, nossas calçadas, ruas, e
muitas vezes não nos damos conta. A música brasileira pari todos os dias filhos
como Iasi e Iaco, mas onde estão eles, senhora MPB? Não podemos esperar que a
grande mídia os apresente. Tenho orgulho de poder semanalmente mostrar a vocês,
que seguram este periódico, o que há de melhor nos quatros quantos deste país.
Com participação de André Mehmari ao piano, Iaco desfila
um vocalise na sua própria canção, Assombrosa,
uma verdadeira aula de como colocar a voz a serviço da canção. O próximo tema, o
instrumental Festança (Pedro Iaco), confirma
que Iasi e Iaco realmente têm intimidade com as cordas. Nele ouviremos os
violões de seis e sete dialogarem uma melodia. Iaco e uma kalimba eternizam Enquanto Dorme (Pedro Iaco), em apenas
22 segundos. Jumbalalão (Pedro Iaco)
é uma singela canção de ninar. Sabe aquelas noites enluaradas que só o céu do
interior é capaz de nos mostrar? É um retrato sonoro dessa
serenata/samba-canção composta por Iasi e Gabiel Fiorito, de nome Pétala de Rosa. Pensando no mercado
internacional, Iasi Iaco investem nos temas cantados em inglês. Agora é a vez
de ouvirmos Chet Parker (Giovanni
Iasi/Joe Flood). A voz grave e densa de Tiganá Santana contrasta com a delicada de Iaco em um belo dueto: Abismo (Iaco). Encerram essa maravilha,
a letra psicografada por Iaco, Minha Viúva,
e o vocalise para o avô de Iasi, Nani.
Bálsamo aos ouvidos, água para a alma.
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