Edição e revisão: Marsel Botelho
A batida eletrônica com a batida do coração poético
Uma
bela surpresa: entre os CDs/DVDs que recebo semanalmente para minha apreciação,
encontro o “Projeto Lavadeiras” de Gedley Belchior Braga & Lina de
Albuquerque. Ele é artista multimídia e professor de artes na Universidade
Federal de São João del-Rei. Ela é jornalista e escritora. Ambos compuseram 14
faixas e 3 bônus, que são interpretadas por Helena Cutter, Misty do Brasil e David
Pasqua, neste álbum de estreia, produzido pelo próprio Gedley e David Pasqua.
Lina cuidou de escrever todas as letras e Gedley compôs as melodias, além de
tocar sintetizadores e elaborar a concepção dos arranjos. David Pasqua: piano, baixo,
teclados e programação. Helena canta 12 temas e Misty dois. Além do CD físico,
podemos encontrar o projeto em todas as plataformas digitais.
Com
as bases eletrônicas e uso de “samplers”, os temas foram construídos em uma
sintonia perfeita. O uso da eletrônica serve como uma cama para as letras
deitarem e acordarem sob as vozes de Helena, Misty e David, envolvendo o
ouvinte e fazendo-o parte da história. Encontrei o Gedley em uma rede social e tivemos
um papo rápido sobre o “Projeto Lavadeiras” e ele me disse: “Na verdade, quando
eu e Lina começamos esse projeto no ‘MySpace’, queríamos que as músicas fossem
gravadas por outros artistas, pois nenhum de nós dois é ‘músico’. Depois
pensamos na produção de um CD, mas veio a crise, ninguém compra mais CD. De
qualquer forma, eu tenho mais familiaridade com a eletrônica por ter estudado
muito piano e ser apaixonado desde a adolescência por sintetizadores e coisas
do gênero. E a ‘eletrônica’ nos permitiu reduzir os custos de estúdio também.
Realmente o espírito do trabalho era deixar as canções sobressaírem...”
O
“Projeto Lavadeiras” chegou com uma proposta de contar histórias emolduradas
por uma poética simples, cuja plasticidade sonora criada por Gedley é
sensivelmente aconchegante. “Desassossego” abre a audição: um piano marcando os
acordes para a letra que transborda da voz de Helena Cutter e um refrão que registra
cada compasso: “Essa tristeza só quer aumentar/O desejo de amar...” Em seguida
uma homenagem à grande poetisa Adélia Prado que, como Gedley, é da cidade
mineira de Divinópolis: “Viga do sonho.” A letra simula uma conversa entre uma
cliente, Dona Adélia, e um vendedor de rimas, inusitadamente em uma “casa de
construção”. Em “Beijo de Esquimó”, Lina brinca com a temática “fria/quente” e
nos coloca no jogo. A “música do disco”, na minha concepção, é “Bordado”: sua
poética envolve de uma forma que me emocionou muitas vezes; a música, inspirada
no artista plástico Leonilson, filho de uma costureira, faz referência poética
aos bordados que ela produz. “Papai Noel em Marte” também tem uma melodia linda,
cativante: uma homenagem ao artista Nelson Leirner.
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