Edição e revisão: Marsel Botelho
Caio da vida a cultura popular com música do seu pai.
O
artista se eterniza quando acredita na arte que corre em suas veias. A cultura
popular, que a cada dia parece ser ceifada, ganha sobrevida com o carioca de
nascença, mas radicado potiguar (RN), Caio Padilha, multi-instrumentista, compositor
e cantor, lança o CD “Arrivals: Rabecas e Arribaçãs”, uma viagem na companhia do
cancioneiro popular, do som da rabeca, do mugido do boi, do cheiro da terra. O
jovem artista apresenta canções suas e de seu pai, Almir Padilha, algumas
datadas de muitos anos antes dele nascer. São onze temas que merecem uma atenção
especial: não é todo dia que se ouve algo tão centrado na matriz musical da cultura
popular, onde todos os elementos musicais brasileiros se interconectam e tornam-se
referência de todo grande artista. Conheci o Caio durante as gravações do
programa Sr. Brasil da TV Cultura, realizado no Sesc Pompeia: na mesma noite,
gravamos uma entrevista para a TV Planeta MPB.
Caio,
ainda em sua tenra infância, por volta dos seus três ou quatro anos de idade,
na casa do padrinho, que era violinista da orquestra sinfônica do Rio, decidiu
que queria tocar violino. Logo em seguida ganhou de seu avô paterno o
instrumento e passou a frequentar às aulas de música, cujo aprendizado era realizado
segundo o método Suzuki. Aos 8 anos, quando se mudou definitivamente para
Natal, passou a estudar violino pelo método tradicional europeu. Não se
adaptando a esse tipo de abordagem, resolveu abandonar o estudo do instrumento,
embora tivesse sido bem-sucedido, chegando a vencer concursos mirins. Tendo
estudado teoria musical, seguiu praticando uma diversidade de instrumentos, bem
como desenvolveu uma singular afeição pelo piano, que era de sua mãe. Filho de
músicos e numa cidade relativamente pequena, Caio conheceu os instrumentistas locais,
desfrutando do respeito e do carinho de todos, passou a se apresentar como
ator, músico, compositor e intérprete. Nesse entremeio de afazeres, apegou-se
intensamente aos instrumentos populares, que não tinham espaços na academia:
sanfona, viola caipira e a vistosa rabeca. Passou a dar oficinas desta última
dentro e fora do Brasil.
Ouvir
os textos poéticos e as canções desse CD é por demais reconfortante, um grande
aprendizado, além da imensa satisfação de saber que ainda existe um artista
desse naipe. São muitas verdades postas em canções que transcendem o ofício de
ser artista. O tema que abre o CD foi composto por seu pai, Almir Padilha, em
1978 e retrata o reencontro com sua terra natal; o despertar daquele sentimento
que faz o contraponto com tudo o que está diferente, ouvimos em “Desalinho”. Um
belo texto, antes da voz em “Gaiola de Alçapão” (C.P). “Passarim” (Almir
Padilha) também traz um texto em versos cantados. Um dos temas mais significantes
do CD, “Rabeca Matutina” (C.P), desponta com um solo de rabeca. Essa sonoridade
tem laços com a infância. “Citação/Vadiação de Vaqueiro” (Almir Padilha) é uma
verdadeira aula de cultura popular. Para conhecer mais sobre esse álbum e esse
artista, genuinamente nordestino, que acredita na arte que faz, acesse
www.caiopadilha.com
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