quarta-feira, 22 de março de 2017

A poética em Caipirerê


Edição e revisão: Marsel Botelho
                                                                                                                 

                              Melodista de mão cheia Paulo Henrique encontra em seus parceiros o poema certo para suas canções.



São poucos os discos que conseguem nos conduzir atentos do início ao fim, sem pular uma faixa sequer. Em “Caipirerê”, quinto álbum do cantor, compositor, instrumentista, arranjador, produtor musical e professor, Paulo Henrique. Os temas apresentados foram compostos ao longo de 15 anos, exceto o tema título do CD. Contendo 11 faixas, o álbum foi realizado pela Secretaria de Cultura da Cidade de Mogi das Cruzes (SP), terra natal do artista.

PH é um compositor que capta a alma poética de seu parceiro letrista: sabe para quem mandar a melodia que vai ser vestida por verdadeiros poemas. O artista contabiliza esses CDs: “Baião Mineiro” (2003); “Lavando a Alma” (2008), com o parceiro Paulinho Pedra Azul; “Noite Brasileira” (2011); “Canto a meu Povo” (2016), com o parceiro Pedrão.

A canção que abre o CD, “Serra do Itapety” (PH/Henrique Adib), é uma declaração de amor à flora e fauna da rica região de Mata Atlântica da Serra de Mogi e adjacências. O arranjo é simplesmente lindo e o coro de crianças canta versos assim: “Cedro, seringueira, pau-ferro, pau-brasil/Suinã, paineira, quaresmeira/Quem te viu?/Mocho, pintassilgo, joão-de-barro, anu, araçari/Jabuti, tatu, gambá, esquilo, porco-do-mato, quati.” Aula em formato de canto, coisa que não se vê mais na escola. Nesse CD, não tem música com letra que reflita apenas o falar coloquial, mas melodias que carregam um estrato poético vigoroso. Em “Violeiro Solitário” (PH/Júlio Bellodi), destaque para as harmonias de Luizinho do Acordeon e o solo de viola caipira de João Paulo Amaral. Os vocais de Bia Mello e Mariana ajudam a abrilhantar o que já é belo ao entoar: “Sou mais um violeiro, mais um violeiro tão só/Trago uma mágoa no peito, que na garganta forma um nó/ Que me faz querer viver e me faz querer cantar.

Uma modinha daquelas de sensibilidade única, como aquele olhar do amor um dia contemplado solitariamente em divagações juvenis: “Lua Vaga” (PH/Julio Bellodi), o arranjo é de tirar fôlego. A canção que dá titulo a essa viagem musical, “Caipirerê” (PH/Juca Filho/Murilo Antunes), é uma parceria especial de PH com os poetas Juca Filho (carioca) e Murilo Antunes (mineiro). Com Paulinho Pedra Azul, PH compôs a autêntica moda de viola “Quem te escuta se apaixona”. O moleque travesso é cantado nesse tema que mergulha na magia do imaginário do ser e do estar no mundo. O “saci” das narrativas míticas, lenda indígena africanizada, esquecido nas páginas das fábulas brasileiras, tem seu resgate na canção “Um Pé” (Henrique Adib).

A canção indígena “Muiraquitã (PH/Murilo Antunes) tem, em seu arranjo instrumental e vocal, a beleza emoldurada da poesia de Antunes, que conta a lenda de Muiraquitã. O vocal de crianças novamente é o grande achado. O baião “Entrevero” (PH/Murilo Antunes) desafia o entressono e o desadormecer. Uma pintura melódica se encontra em “Cantinela do Vampiro e da Mulata” (PH/Paulinho Pedra Azul). Um maracatu para Drummond e Cabral se ouve em “Fogo Cruzado” (PH/Julio Bellodi). Fechando a audição, ouve-se “Descaminhos” (PH/Murilo Antunes). Impossível mesmo é escolher a melhor canção. Compre seu CD pelo Email: peaga2106@gmail.com

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