Edição e revisão: Marsel Botelho
Melodista de mão cheia Paulo Henrique encontra em seus parceiros o poema certo para suas canções.
São poucos os
discos que conseguem nos conduzir atentos do início ao fim, sem pular uma faixa
sequer. Em “Caipirerê”, quinto álbum do cantor, compositor, instrumentista,
arranjador, produtor musical e professor, Paulo Henrique. Os temas apresentados
foram compostos ao longo de 15 anos, exceto o tema título do CD. Contendo 11 faixas,
o álbum foi realizado pela Secretaria de Cultura da Cidade de Mogi das Cruzes
(SP), terra natal do artista.
PH é um
compositor que capta a alma poética de seu parceiro letrista: sabe para quem
mandar a melodia que vai ser vestida por verdadeiros poemas. O artista
contabiliza esses CDs: “Baião Mineiro” (2003); “Lavando a Alma” (2008), com o
parceiro Paulinho Pedra Azul; “Noite Brasileira” (2011); “Canto a meu Povo”
(2016), com o parceiro Pedrão.
A canção que
abre o CD, “Serra do Itapety” (PH/Henrique Adib), é uma declaração de amor à
flora e fauna da rica região de Mata Atlântica da Serra de Mogi e adjacências.
O arranjo é simplesmente lindo e o coro de crianças canta versos assim: “Cedro,
seringueira, pau-ferro, pau-brasil/Suinã, paineira, quaresmeira/Quem te viu?/Mocho,
pintassilgo, joão-de-barro, anu, araçari/Jabuti, tatu, gambá, esquilo, porco-do-mato,
quati.” Aula em formato de canto, coisa que não se vê mais na escola. Nesse CD,
não tem música com letra que reflita apenas o falar coloquial, mas melodias que
carregam um estrato poético vigoroso. Em “Violeiro Solitário” (PH/Júlio
Bellodi), destaque para as harmonias de Luizinho do Acordeon e o solo de viola
caipira de João Paulo Amaral. Os vocais de Bia Mello e Mariana ajudam a
abrilhantar o que já é belo ao entoar: “Sou mais um violeiro, mais um violeiro
tão só/Trago uma mágoa no peito, que na garganta forma um nó/ Que me faz querer
viver e me faz querer cantar.
Uma modinha
daquelas de sensibilidade única, como aquele olhar do amor um dia contemplado solitariamente
em divagações juvenis: “Lua Vaga” (PH/Julio Bellodi), o arranjo é de tirar fôlego.
A canção que dá titulo a essa viagem musical, “Caipirerê” (PH/Juca Filho/Murilo
Antunes), é uma parceria especial de PH com os poetas Juca Filho (carioca) e Murilo
Antunes (mineiro). Com Paulinho Pedra Azul, PH compôs a autêntica moda de viola
“Quem te escuta se apaixona”. O moleque travesso é cantado nesse tema que
mergulha na magia do imaginário do ser e do estar no mundo. O “saci” das narrativas
míticas, lenda indígena africanizada, esquecido nas páginas das fábulas
brasileiras, tem seu resgate na canção “Um Pé” (Henrique Adib).
A canção
indígena “Muiraquitã (PH/Murilo Antunes) tem, em seu arranjo instrumental e
vocal, a beleza emoldurada da poesia de Antunes, que conta a lenda de
Muiraquitã. O vocal de crianças novamente é o grande achado. O baião
“Entrevero” (PH/Murilo Antunes) desafia o entressono e o desadormecer. Uma
pintura melódica se encontra em “Cantinela do Vampiro e da Mulata” (PH/Paulinho
Pedra Azul). Um maracatu para Drummond e Cabral se ouve em “Fogo Cruzado”
(PH/Julio Bellodi). Fechando a audição, ouve-se “Descaminhos” (PH/Murilo
Antunes). Impossível mesmo é escolher a melhor canção. Compre seu CD pelo
Email: peaga2106@gmail.com
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